17 de outubro de 2009

A CONCHA E O BREU

{ligiaprotti}
Breu imenso. Algo acontece. Há dias a maré não se move e os poliquetos realmente já haviam reclamado sobre a presença de partículas estranhas em seus pequeninos e frágeis tubos. Eu, solitária, o que é de meu destino, permaneço na minha lida de agarrar-me à areia e daqui tirar o alimento. No entanto, isso que sugo não mais adentra a minha boca normalmente, como antes de tudo ficar escuro, de repente. A areia parece estar agregada a algo mais, tamanha a sua viscosidade...E é em vão que tento me arrastar pela superfície submersa, afinal sinto que aos poucos meus pés prendem-se aos grãos de quartzo, ficando cada vez mais espessos. Assim, vou emudecendo meus movimentos...E esse breu na água que não passa...Há pouco vi passar ligeiro o cardume de xeréus por sobre a minha concha, pois o brilho de suas escamas reluziu a pouca luz do sol que ainda consegue penetrar onde o escuro agora habita. Será para sempre? A forma cônica do céu que se espraiava por sobre a água...talvez nunca mais o veja. Ah, o brilho da lua cheia, inundando a límpida forma líquida. Agora guardo-o somente dentro de mim, onde minha carne apodrece lentamente. Aqui, sob o mar, é tempo de jardins negros. A morte me é próxima e sinto-a, ao mesmo tempo, longa e breve. Parto, e ao mar, antes lugar de tanta vida, deixo minha casca, pobre concha rósea madriperolada.

O SER VÁRIO


daniel com o sol na garganta {ligiaprotti}
Porque gosto das sombras que se formam ao fundo do palco. Sombras de seres de carne e osso, ilustrando o ser vário. Porque gosto do trabalho que incentive a mente à reflexão, de toda forma de viver inconsciente que o ser humano criou. O teatro que conduza à reflexão nos mais recônditos espaços do corpo humano.

11 de setembro de 2009

STANISLAVSKIANA

Construo um arquivo de sentimentos e nele insiro algumas imagens, pessoas que me vêm à mente, memórias, alguém com quem certa vez você dividiu um cachorro quente. Carrego sempre uma luneta e observo as pessoas a cada gesto impensado pelas ruas da cidade.

O GRANDE CIRCO ÍNFIMO

Ínfimo. Aquilo que é diminuto, quase sem importância, salta-nos à face e me encontro naquela estrada de terra, agora esquecida. Personagens de um tempo com sol dialogam com as razôes de ser e estar no hoje. Ideologia vendida ou contra-mão? Não responda, por favor. Basta de balde água fria. Coração partido, circo humano. É disso que fala o Grande Circo Ínfimo: “com a fome do palhaço e a bailarina louca”, como já dizia Milton Nascimento. Pedaços, fragmentos do sonho, que se reencontram, mas não conseguem formar o círculo-circo-lona, como espiral contínua, novamente.
Rumos dispersos, através do violino dissonante, e o poema final traz-nos à tona. Ânsia pungente do sentido para o existir no mundo.

FRUTO TEATRAL

Corpo desmontado, descondicionado, cabeça e cauda, uma sabendo da existência da outra. "-É mais isso, e menos isso..sabe?" Pé derretidos no chão feito gelatina. Aprendi a pensar em ser esponja, de consciência e corpo poroso, coisa que antes nem sequer imaginava como forma de existência possível. Esponja que se enche de água e depois espreme, e volta a encher... A boca do Michel fazendo o som da água sendo sugada...aahhh....Os sons que a boca do Michel emite inundam os espaços.O tempo todo a boca emitindo sons, dando um elemento a mais às ações. Os fortes sopros de ar dando a indicação de descarrego: "-Tu abre a primeira vértebra, e ahhh..." E nós, construindo a rede, nós, feito cacho de uva, amadurecendo a cada alongamento, cada gama de movimento, quedas repentinas.

Aprendi que a possibilidade de existir, surgir, tá no erro. Experimentar é a regra. E hoje, após tantos dias, prazerosamente coagidos à des-regrar, brincamos no tempo de quatro luas crescentes de uma mesma sonoridade. Brindamos também por termos nos conhecido, por termos tido o prazer das ricas aulas, o valioso contato comsonoridades outras. Eu sou um, que sou você, que posso ser ele, que vou sendo. A cada tempo. Muito obrigada a todas as uvas do cacho, e principalmente ao Michel.

O JOGO DAS CONTAS DE VIDRO

la luna de lorca {ligiaprotti}
Talvez porque eu quisesse de fato fugir, afinal as cores que lhe saltavam das oculares não eram as mesmas do meu dia-a-dia. E, o desconhecido amedronta, ao mesmo tempo que convoca. Se, de repente eu entrasse no seu mundo, voltar não mais seria exato. O jogo das contas de vidro, a cama sempre pronta, pro dia e pra noite.

COTIDIANO

Quando os ônibus param, um ao lado do outro, temos a mesma realidade, porém como espelho.

NIRVANA

O teatro é um meio de auto-conhecimento pelo exterior, como se olhássemos pela fechadura do mundo. O teatro é mentira o tempo todo.