CORPOR EM PALAVRAS
cartas-poemas e outras palavras. expressões da amplidão interna.
13 de fevereiro de 2014
O verde da janela
Enquanto
olhava para a janela e via um ser aberto, aberto com a luz do fim de
tarde a iluminá-lo, pensava: que sorte, que sorte a minha. Caía a noite e, apenas
pela lembrança da imagem, continuava a agradecer por tal achado. Foi que, certo
dia, amanheceu e percebi: o trevo, que eu achava ser de quatro, tinha, como a maioria dos plantados, apenas três folhas. Restou-me, então, fazer um quadro. Hoje,
pendurado na sala à luz da janela aberta - esta sim aberta em sua concretude -
o quadro, mesmo de um trevo ordinário, é belo. Anda um pouco amarelado,
há certo tempo já é passado, mas emoldura aquele instante fugaz de felicidade
declarada. Que sorte. Que sorte a minha.
12 de fevereiro de 2014
Em homenagem à lua cheia
A série abaixo, denominada "Viagens Il(h)íacas", é composta por cartas-poemas escritas durante o ano de 2004. Chegam aqui, neste momento, pelo acontecimento da espiral do tempo.
SACIANTE
Nuca branca
nua e coberta
por constantes olhares meus
quase enxergando-a como o saciar
de toda uma vontade.
3/08/04
3/08/04
VIAGEM IL(H)ÍACA
minha lanterna falhava
molhava o contato com o todo
e a lembrança de você
O que veio primeiro:
o jade ou....
Coincidência [digo sempre]
é um sorriso lindo
lembrei-me
e da gente na feira
Vontade de escrever
uma palavra só
cueca preta [foram duas]
ou serão...três?
E por que eu de índigo blusão?
[sob o blusão, sob a blusa,
nas encostas lisas do monte do peito...]
É que eu te queria aqui
e escrevi
alucinada [ou melhor]
entorpecida
Do jeito que ouvi
no som abafado daquele instante
do tomar sorvete
com chiclete mentolado
e pozinho de pirilim-pim-pim.
08/09/04
AUSÊNCIA
Alado
fita-me
no constante despir incompleto
do corpo que ainda crê
no tremor além da carne
subjugado por Afrodite
Interrompo o ato não consumado
paro me reencontrando
pois não há dúvidas
e sim a necessidade do espiritual
mais saciante do que qualquer relação carnal
Portanto, sem senti-lo
prefiro o sono às respirações ofegantes
desprovidas do odor uno
interligante dos cosmos e corpos
sobre a cama acalentada
pelo burburinho da Rua da Lama.
12/09/04
À ESPERA
Desejei que parasse meus passos
[constante reflexão sobre letras hermanizadas]
e me desse o gosto de sua nuca
ofuscada pelos fiapos
passivos a toda forma de querer,
mas aguçantes da minha vontade
Então,
vem e me mostra
a linha de costa nas tuas vértebras
pintadas [as costas]
aleatoriamente
com tudo cor cobre coberto
Corando-me
na descoberta do como será
antes de partir pra /Bach/.
20/10/04
TORTUOSO
Como se fosse eu
[mas era outra]
Quanto a mim
estigmatizada
o fel estagnado no peito
efetivando o engano
do retrato falado
expondo-me a ti
Turvou-se
toda água
que corria em mim
desordenando meu seguir
Mais uma vez
sozinha pelo campus
pós-crepuscular
sem nuca
nem relógio
e muito menos o óbvio utópico:
realidade palpável
como minhas mãos
sentindo tua barba.
05/11/04
RETORNO
No fim da tarde
o muleque da pedra ria
gargalhava de mim
ouvindo a espuma a teimar contra a rocha:
gosta - desgosta - gosta
gosta - incerta - gosta
gosta - na certa - gosta
De novo te queria aqui
mostrar-te minha ilíaca ilha
composta do que há por dentro,
mas parece que só em dezembro
na lua cheia d'alma
Lembrando o quanto gosto
de olhar nos teu olhos
e de quebra fitar a pinta
guiando pra boca.
19/11/04
TROPEZIGOS
Há dias em que se prefere
ter sumido
muda ter sido
e no teu apê
-cheirando a sim-
vivido
No lado B da sala escura,
sem negar a vontade
ter dançado contigo
Malabares coffe candy
tormentas oceânicas
a flor amarela na janela
desfocada, mas bela
Seria ela?
Desfocada, mas bela
seríamos?
Pelas constelações sigo
[é preciso]
"Long,
long, long time..."
eu é que digo.
10/12/04
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