13 de fevereiro de 2014

O verde da janela

 Enquanto olhava para a janela e via um ser aberto, aberto com a luz do fim de tarde a iluminá-lo, pensava: que sorte, que sorte a minha. Caía a noite e, apenas pela lembrança da imagem, continuava a agradecer por tal achado. Foi que, certo dia, amanheceu e percebi: o trevo, que eu achava ser de quatro, tinha, como a maioria dos plantados, apenas três folhas. Restou-me, então, fazer um quadro. Hoje, pendurado na sala à luz da janela aberta - esta sim aberta em sua concretude - o quadro, mesmo de um trevo ordinário, é belo. Anda um pouco amarelado, há certo tempo já é passado, mas emoldura aquele instante fugaz de felicidade declarada. Que sorte. Que sorte a minha.


2 comentários:

Anônimo disse...

Trifolium

Pensei ter visto algo,
um algo que não estava lá,
concedendo-me o beneplácito régio
de, ao menos por um instante,
habitar em alturas rarefeitas
e sonhar.

Na infinitude de outros trevos,
num jardim que se estende
entre o espaço que separa
os inícios dos começos,
pensei ter visto um algo,
um algo que não estava lá.

Uma porta que se abre.
Uma mão que se estende.
A folha que me falta.
Um vazio que se preenche.

Qualquer coisa que me eleve
além dessa vida trifoliada.

p.s.: muito bonita a música. Ela é cantada pelo David Sylvian. Gosto muito de Darkest Dreaming dele

http://www.youtube.com/watch?v=OQlm0Q8HKUE

Ligia Protti disse...

Nossa,que impressionante a conexao da letra da musica com o texto. Soh vi hoje o comentario, Daniel. Muito grata!