31 de dezembro de 2006

serra {ligiaprotti}
Penso engraçado
que se meus olhos falassem
seriam desorientados

Tão engraçado quanto chato
é ser dessa constância nunca perene

Permita-me que eu ande
ao menos sem pisar nas plântulas
e sem o roçar da urtiga contra a pele

Boba
urticária dentro da boca
saiba e aprenda que o presente
é o único momento que existe
e coopera em nossa presença

Assim, cansei de ser indecisa
basta de talvez, pode ser, quem sabe, não sei
assumo que me perco
e a cada dia procuro mais a trilha

13/12/06
Carência desmedida
incontável vontade de morder-lhe os lábios
já antiquado amor
capaz de nutrir-me ainda de verdes pensamentos

Sou rosa para toda a vida
ambígua cor de jambo
de interno branco
e contato vermelho com o mundo

Fruta de primavera

Coração aberto

14/12/06

TATOS


Isso que me sai
como gozo entre as pernas
de fluido róseo
doce sumo da fruta
é quente e chega feito lavra

Estilhaçar de cactos
tontos espasmos
alvorada
isso que me sai
buscando-me completa

Espectadora de mim mesma
me avisto, leve, cálida, tímida
me avisto e me perco
sangria e grilhões através dos montes

Carrego o mundo entre as pernas

21/12/06

caparaó {ligia protti}


Tudo cintila junto
e transmuta num só,
portanto chegue radiante,
leve, dourado,
como se fosse sempre a primeira vez,
e viesse cobrir de flores meu corpo nu.

14/03/06
Acordo e vejo as inúmeras possibilidades
Toda vez que durmo e acordo, renasço


14/09/06

PANFILIA

Como me perco nos corpos de alguns meninos
livres, andarilhos atmosféricos
munidos de bicicletas

Meninos vagantes
sem rumo mapeado, cujo caminho,
por instantes, esbarram no meu,
e, assim me perco
por entre cheiros, pêlos,
e o constante virar de olhos.

05/2005

agenda da tribo

DIAGNÓSTICO

Intensa porque só
E mínima, embora vária,
Ou, talvez, por isso mesmo.


15/09/2005

30 de dezembro de 2006

TENRA


caparaó {ligia protti}

Pudesse sair semeando flores
de circo e girassol

pudesse, neste chão de sal,
onde por entre o quartzo, cresce o vivo,
fazer minha morada de cama-almofada verde cor-de-folha

pudesse, enfim, ser teu fruto
objeto de sumo doce
tantas e tantas vezes concebido por entre teus dedos,
cujos desejos talvez sejam
brotar e viver por entre tudo o que é ipê e cacto florido.
13/07/05

GRÃO

ubatuba {ligia protti}
Imersa,
nesse período latente,
espero,
feito semente.


30/09/05

CHAPADA

vale do capão{ligiaprotti}


Somos feitos de luz e todo o tempo é feito de cria: criar-te. Todo som resplandece e cabelos se confundem com a vontade de ser. O ser é de pedra e nesse lugar todos se encontram.

Entorpecida de frio, já vermelha do interno, procuro pelos espaços em branco.Havia tempo que não sonorizava na freqüência do entorpecimento. Havia o frio e era por isso.O som emerge ao lado. Não há nada mais sonoro que a juventude. Que ela nunca se perca. Amemo-nos, esse é o caminho.

Viro de costas e me abro para o mundo. Mariposas na luz parecem purpurina. Acho que tudo brilha dentro de mim. Dê-me uma flor e meu sorriso, numa metamorfose, toma forma de borboleta. É com amor que vivo. Respira comigo e assim formamos um. Ambíguos são os instantes, e se me acostumo a ver o mundo por este ângulo, já me perco. Só por hoje, amanhã volto a ser eu.

28/12/05

INÍCIO

Depois de um tempo
percebi que queria ser ínfima
e ao mesmo tempo infinita

Queria olhos
tornando os meus como seus
sem ser espelho.
10/11/05

29 de dezembro de 2006

ABDUZIDA

{ligiaprotti}


Abduzida
era o modo como se sentia
[sempre havia]
trazida para os mais recôngidos espaços
seres alados de sexo nu
semblante inundado
pelo rubro sentir de tirar o fôlego
necessidade de afago
[dá-me uma febre tonta]
enxarcada de torpor
deserto de pêlos eriçados

ressentida já de tudo vivida
mesmo assim, ainda viva

iríamos para o sexto quarto?

tínhamos como meta o translado
tranpassado pelos poros para sempre abertos

falando de metafísica, além do corpo
[não vou nem mesmo além de mim]
quem dirá além do outro

Sentir-se em
EXcepcional
(des) Ordem

seria muito para aquele simples dia
de chuva fina e frio nos pés:
permanecemos intactos.

28 de dezembro de 2006

DESTEMIDA

{ligiaprotti}


Deito na cama
e pra cima de mim, mia
rosnando no ouvido,
enquanto esqueço o amargo do dia

Acomoda-se sobre a barriga
seu bigode colado na minha cara erguida

Às vezes me lambe

E eu, desprevenida,
não temo uma mordida,
afinal felinos não são como alguns homens

30/11/04

DUAL

Alucina-me, confusa
representa
e verdades soam à toda
na cara
seu fosco soneto da embriaguez

Talvez ampliada na multidão
simplesmente pela forma de agir
sorri, indecisa
porém, persiste no ir
sugando
expirando sons
fazendo parte e arte
ardendo a cada palavra
que atue como carta branca
para mais uma de suas viagens
aguçantes do sentir-se febril

Latejante de corpo e alma
flamejante
tanto que fica impossível de guardar pra si
si, só si

Mi Si Sol Ré Lá Mi
mira as rimas na minha cabeça que te levo pro céu
por entre as Chapadas, ou pra dentro do Atlântico
indecisa, já disse

Pirigando parar no ar
e caçar uma escada pra descer
sonhando sempre pra matar a vontade

05/08/04