20 de novembro de 2008

19 de novembro de 2008

/JE (T') AIME/

Compartilhar Dominique A. e a onipresença da fumaça que sai do incenso e se espraia por entre meus dedos. Pra te observar, me observando, perguntando, sem som, sobre os caminhos de dentro. Dois anjos e uma cama redonda. Pra te contar que na primeira transa vesti a roupa do dia do boicote ao prazer próprio. Puro prazer do contragosto. Boicote louco, com o qual, cada vez mais consigo dialogar, a fim de que vaze pra fora do inconsciente e, assim, eu vá longe, entretanto no mesmo lugar.

18 de novembro de 2008

"é o astronauta da saudade com a boca toda vermelha...lágrimas negras, caem, saem, doem...."



ao meu amor dos olhos além linha do horizonte
boca rubra feito sangue
e corpo fervente

15 de novembro de 2008

CASTA

rom {ligia protti}
Se um dia faltarem-me os homens
me deliciarei com os gatos
aquilo que rossa
apronta
me unha
lambe
e rasga o que não presta da minha poesia já gasta

Senhores de outro tempo
Imperadores agora rosnando por afago
terei-os por toda a casa
enquanto eu
gata.

20 de outubro de 2008

COME-MOREMOS

"eM ciMA do gUarDa-chUva TeM a cHuvA, que tEm goTAs tãO liNdAs Que aTé dá vOntAde dE cOmÊ-laS..."

ENSAIO DOS BARCOS

Talvez porque fosse tudo muito novo e não te conhecesse bem, portanto não havia temor. Talvez pela falta de sentimento suficiente, ou melhor, talvez porque esse nascesse naquele exato momento e como sol poente, inversamente, o surgir da luz embriagava as pupilas."Sees the sun going down.." já diziam os Beatles.

Talvez por isso tudo tenha dito, a fim de que a frieza não me tomasse as mãos, cabelos, corpo inteiro.

Se compreendo? É óbvio, compreendo. Só preciso de tempo pra sentir.

15 de outubro de 2008

GERINGONÇA

É claro que é cedo,
aliás, por isso mesmo é claro
sol nascendo e indo embora ao mesmo tempo

- a mim também ofusca-

porém, de duas, uma:
a queima do livro,
ou a re-invenção do acaso

so fucking démodé, admito
carrego vermelho nas flores por detrás dos cílios.

12 de outubro de 2008

À METRÓPOLE

avenida paulista {ligia protti} 

São Paulo traz uma sensação de imensidão inacabada, como grão de areia nas praias. É mais um com todos à volta. One more. Bicos arrepiados na ida ao teatro, as pessoas trajando preto, ausência de colores. A conversa com o professor que fedia a cigarro fez a fumaça me invadir as narinas e entortar os pêlos dos faceiros buracos. Dois gays sentados, conversando. Belos, belos. Casais aconchegados em all star, jeans e casacos en-lã-çados. Sampa. Toda sua. Imensidão de sentidos, por vezes vindos de destroços plutônicos. Aponto para os bucólicos desenhos por entre as basálticas rochas da Paulista e dalí mesmo procuro o vulcão.

Um viva à cidade que não dorme.

A FAMÍLIA

Ela se arruma para ir à igreja, cobre-se das melhores vestes. Triângulo, abaixo o quadrado, e objetivamente esse é o modo de se vestir do marido. A filha, de mediana data natalina, os acompanha babando os longos cabelos que cacheiam o estrondo do salto. Mas, alto lá, pois chove e sobre suas cabeças dois negros guarda-chuvas se movem, um sobre o casal e outro acompanhando a filha. É de seda ornada com pinduricalhos e rendas, a culpa cristã.O pai geométrico que o diga. Há tempos não se lembra do que é ser pipa, e farto está do cotidiano, que a cada coxia velada, insere os anos em seus dias de vida: essa mesma brevidade que ainda é gasta, todos os domingos, na ida ao confessionário.

9 de outubro de 2008

INSÔNIA ou O DIÁLOGO DOS PALITOS DE FÓSFOROS

auto-retrato {ligia protti}

-...

(pausa longa)

-Tá tudo bem?

- Ah sim, obrigada por perguntar..(uma longa inspiração) Tudo bem, sim, tive um dia cansativo e engraçado. De longe, parecia enxergar roseiras no campo.. (canta) "não mão direita tem uma roseira, autenticando eterna primavera.." sabe?! E agora crio um diálogo solitário. Ok, ok, chove lá fora..talvez seja por isso. É...seu silêncio...não pedi por isso. Acho que vou-me. Já basta. E o som da água tarda a passar. Isso me agrada, todos sabem....Rio. Rio e choro...Dia de esvaziar canais.

-Beijos

-Beijos

OLHARES

{ligiaprotti}

22 de setembro de 2008

Indecisão. Mal do século. Ideologia sem patas. Nua, mas de colarinho branco. Jamais diria tudo o que penso, até porque a crítica exige um conhecimento prévio. Há loucuras esparsas entre meus pensamentos, o que já os tornam out of padrão de consumo, new order.

Assumo o risco durante o expandir das gotículas de saliva.

30 de agosto de 2008

O QUERERES

{ligiaprotti}
Caetano me ascende
incensos de lótus azuladas
e pela madrugada
faço amor com samba,
dispenso censuras
e me permito lugares ainda não habitados.

"Sim, ou não?" Lançaram-me.
Noite de encontros corpóreos com o acaso, embora de certo premeditados.
Sorri apenas, pois tortos são os quereres.

ANTES DE TUDO

Quando ainda era concha
polpei palavras por medo do que pudessem parecer:
cata-ventos.

Agora a música gira e o elemento dionisíaco embriaga.

Ainda não havia aprendido a dizer, por isso carregava cata-ventos no sexo.

27 de agosto de 2008

BoCa,
palavra DESvirginada,
EXPLORAdorA
vErTigem:
minha boca e o mundo.
Fiz da madrugada, descoberta espelho, silêncio, Mil tons soando internamente vermelho cereja apenas fruta que volta a tornar-se madura flor exalando cheiros, temperos de mil e uma noites negando gratuitos prazeres , querendo a nudez bacante após versos de Dante sonhei, sonhei, no céu estrelas bandeiras pra me guiar, quatro luas e bocas líricas.

10 de agosto de 2008

dos corpos nus

trânsito
transito
transi
trans
tran
ta

24 de julho de 2008

"Sempre soube que nada encontraria aqui" - pensou ele. Mas sempre procurou. Por que? Porque queria encontrar. E a todos aqueles que podia, questionava sobre qual sentido estes, que por um acaso do destino, cruzavam a sua vida, se apoiavam para todas manhãs acordar e vestir os sapatos, vagando de nada para nada com copos de café. Queria algo que lhe viesse em resposta nos ouvidos. Como um sopro, como aquela vez em Saquarema quando a maresia batendo em seu rosto sussurrou a fagulha deste incêndio particular. O sentido talvez pudesse ser seu também, o sentido do outro, mesmo sabendo que era um assunto único, e que se existisse um Deus, esse o havia escondido muito bem para que não fosse fácil encontrar.


Então aquietou-se, porque talvez esta resposta lhe custasse a vida, e a vida em si já bastava.

Adormeceu sobre a ausência dos próprios sentidos.






by Lucas Protti

3 de junho de 2008

SOMBREIRO


{ligiaprotti}
Cabe a mim admitir a vida própria do meu não tão -ainda- conhecido inconsciente. Belíssima atuação, se analiso a autenticidade, o não medo, coragem, e o modo amoral como atua.
Primeiro, se mostra no sonho e, depois , ainda não satisfeito, surge nas palavras trocadas, embaralhadas. Ao primeiro sinal pode-se pensar que estou confusa, mas é apenas o vir à tona do que em mim, no mais interno e ofuscado pelas sombras, há. Pensamento negado, aquilo que escondemos atrás das roupas que menos usamos, dentro de gavetas já emperradas.
Escuto-o, reflito, mastigo, falo, grito. Não há porque temê-lo, pois que é lavra, nascente, precisa escoar, afinal, represado, desbaratina. Como se fosse impensado, já que é sempre domado, se faz presente inesperadamente. E, de fato, presente é, se souber identificá-lo.


No lugar do teu nome houve outro
porque fervilhava o episódio pouco antes ocorrido
nada além disso
houve grito
- o compartilhar alivia-
era preciso que soubesse
eu apenas, ainda, não sabia

agora sim, dialogo
com ele, com tú
em mim
conosco
ouço-me e sou ouvida.

1 de junho de 2008


Sulcos na carne
palavra adentro
alimento
fluxo contínuo sugando suor
respiro/respiro/respiro
giro incessante
como negamo-nos tantas e tantas vezes?

-Diga-me, palavra
!

Solista palavresca contínua
por vezes escapulindo por entre os dentes
mordendo a mim mesma
meu esperma Hera
que me lança lança dança
giro no som

saliva
solista de som imaginário
quedas desmedidas
respiro
teu hálito forma minha linfa
arcada única das sílabas sulcando o corpo
inflando o peito
corteja
goteja

lanternas gotejando dos teus olhos
aos meus
aos montes
monte de vênus
teu peito
meu púbis
minha boca rima com seu falo.

VÊNUS

{ligiaprotti}



Sem me importar em entoar canções fora do tempo
nem temer algum desapontamento
fiz da vontade sopro
despida do casulo imaginário
enviando mensagens coronárias
a fim de derrubar temores
realidade no lugar da cena
beijei-te a boca como quem toca purpurina no ar
e teu rosto de espanto me fez mais Vênus.
COBRE
ROSA
RUBRO
BEJE
COR
SILÊNCIO
RUBRO
SILÊNCIO
NÃO
SILÊNCIO
SIM
SILÊNCIO
CORAÇÃO
SILÊNCIO
SIM
SILÊNCIO
TUM-TUM-TUM
SILÊNCIO
SIM
SILÊNCIO

BOCAS

SILÊNCIO


E

S
I
L
E
N
C
I
O
ENQUANTO POSSO.

23 de janeiro de 2008

auto-retrato {ligia protti}
Uma mão saiu em busca de outra
passou por entre ventos
tempestades
caminhou livre
o vento por entre seus dedos

uma mão
sozinha
de repente
encontrou outra
também só em sua lida

tocaram-se
contato feito
seguiram segurando-se
apoiando as pontas dos dedos
brincando de espelho
desbravando fendas
segurando medos
fundindo-se

até que uma das duas
lembrou do gosto do vento
de ser livre
lembrou do querer
ir ao alcance das estrelas
tocar o sol
lembrou do mar

chorou


eu também chorei.

4 de janeiro de 2008

Floresta à beira-mar

Não escolhi tal anonimato, nem desejei dizer verdades enquanto se constroem notas musicais. Mas, foi, de repente, que como o caroço da drupa me tirou o sono. Era noite, e teus olhos me lembravam a Índia.

Espectral ocular de desvio inconsciente, trouxe-me à boca gosto de corpo que fala em silêncio - corpo que fala em silêncio - transcedental no meio de todos.

Iluminada por todas as árvores dos frutos, meu gozo no meio de todos. Era noite, e tudo o mais evaporava-se. Boleros imaginários, voz ampliada na escuridão.Floresta cantando.