Não tenho uma foto com ele pra postar, ficou tudo gravado no corpo, no coração. Há dois meses, no dia do nosso reencontro após tantos anos, curiosamente achamos graça tirar uma foto com o flyer da festa nas mãos e, numa provocação ao fotógrafo, negamos aquele instante de flash cegando-nos os olhos. Eternizávamos o momento apenas na memória. O reencontro ficava marcado na lembrança que é eterna.
A partir de então, ríamos muito juntos, gargalhávamos, que é a melhor coisa da vida. Este foi um dos maiores aprendizados com ele que é, sem dúvida, um dos maiores bufões de todos os tempos. Dizia isso a ele, que era um bufão repleto de amor. Dono de um senso crítico apuradíssimo, refinado, uma forma particular de ver o mundo, de ver a vida transbordando humor através daquele par de olhos crocantes, ele se alimentava de partilhar isso com o próximo. Ríamos dos mesmos devaneios e compartilhávamos palavras sobre a história do teatro, a chuva, a escrita do Lima Barreto, as melodias do Dorival Caymmi e até sobre o Flamengo, invencível timão do peito. Dizia que um dia ainda me explicaria como o fenômeno de um estádio lotado debaixo de chuva era algo interessantíssimo do ponto de vista antropológico. E eu ria com o meu coração. "My Funny Valentine" na voz do Chet Baker foi feita pra ele. Publiquei no meu perfil pra ele, ele sabia. Escreveu "sabiiiia!" quando viu. Sabia que me fazia sorrir com o meu coração. Aprendia com ele como quem segue um mestre zen daqueles que ensinam por koans, que são respostas enigmáticas altamente ilógicas e desconcertantes que não podem ser solucionadas intelectualmente. Porque Gabriel Labanca sempre falava além do que imaginávamos.
A partir de então, ríamos muito juntos, gargalhávamos, que é a melhor coisa da vida. Este foi um dos maiores aprendizados com ele que é, sem dúvida, um dos maiores bufões de todos os tempos. Dizia isso a ele, que era um bufão repleto de amor. Dono de um senso crítico apuradíssimo, refinado, uma forma particular de ver o mundo, de ver a vida transbordando humor através daquele par de olhos crocantes, ele se alimentava de partilhar isso com o próximo. Ríamos dos mesmos devaneios e compartilhávamos palavras sobre a história do teatro, a chuva, a escrita do Lima Barreto, as melodias do Dorival Caymmi e até sobre o Flamengo, invencível timão do peito. Dizia que um dia ainda me explicaria como o fenômeno de um estádio lotado debaixo de chuva era algo interessantíssimo do ponto de vista antropológico. E eu ria com o meu coração. "My Funny Valentine" na voz do Chet Baker foi feita pra ele. Publiquei no meu perfil pra ele, ele sabia. Escreveu "sabiiiia!" quando viu. Sabia que me fazia sorrir com o meu coração. Aprendia com ele como quem segue um mestre zen daqueles que ensinam por koans, que são respostas enigmáticas altamente ilógicas e desconcertantes que não podem ser solucionadas intelectualmente. Porque Gabriel Labanca sempre falava além do que imaginávamos.
Naquela noite nos encontraríamos. Muito melhor do que cinema (como a eterna inventiva mídia publica), compartilharíamos as imensidões de nossas almas, internas e externas. Nos olharíamos nos olhos, isso já bastava. Mas, como ele não poderia demorar muito, achamos melhor deixarmos o encontro para sexta-feira. Algo o esperava, parece até que sabia. Antes de suas últimas postagens no facebook, voltando da Estácio, me enviou um torpedo dizendo que naquele momento passava de carro pelo Engenhão torcendo pra que o jogo do Fla não começasse ainda e que ouvia uma música da Marisa no rádio. Perguntei o nome da música, mas ele não sabia e apenas me disse o refrão: "quero que você seja feliz...". Isso ficou gravado em mim. Era também o que eu mais desejava e desejo a ele. Ainda na terça-feira, conversávamos ao som da chuva virtual que havia publicado no seu perfil, e ele me disse: "Deitar no chão gelado de cimento queimado da varanda de casa de praia com um travesseiro de fronha velha e ficar lendo um gibi enquanto a chuva cai". E eu completei: "com aquele cheiro de terra molhada no ar, sem hora pra nada, e depois pegar no sono".
É assim que te imagino agora, Gabriel: bem bonito voltando a ser criança nesse chão de cimento queimado na casa de praia com "ondas, sol e vento", a fronha velha sustentando tua cuca de ouro e a pilha de gibis ao teu lado enquanto dorme pra renascer dourado por aí, brincando de fazer rir até os mais desavisados. Teus olhos crocantes daquela manhã da foto iluminada pela janela, teu cheiro de muco de Wolverine ainda impregnado em mim, teu coração abarrotado de amor e de graça, o sorriso dos dentes levemente separados, teus pés macios dos quais me lembro tão bem, tua alma doce e esfumaçada de bufão pueril enriquecendo esse mundo que te abraça eternamente. Presentes infindáveis.
Envio o meu beijo nos teus pelos das costas. Recebo o teu nas minhas perebinhas. Sei que vai rir disso. Amei-te, menino. Afinal, como te disse aquele dia com as palavras da Clarice, "é quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo". Muito amor por você. Gratidão pelo maravilhoso encontro depois de tantos anos. Sorrirei sempre ao lembrar de você. Darei uma "gargalhada gostosa", como dizia que eu tinha. Te amo.
Que você viva em todos nós.
É assim que te imagino agora, Gabriel: bem bonito voltando a ser criança nesse chão de cimento queimado na casa de praia com "ondas, sol e vento", a fronha velha sustentando tua cuca de ouro e a pilha de gibis ao teu lado enquanto dorme pra renascer dourado por aí, brincando de fazer rir até os mais desavisados. Teus olhos crocantes daquela manhã da foto iluminada pela janela, teu cheiro de muco de Wolverine ainda impregnado em mim, teu coração abarrotado de amor e de graça, o sorriso dos dentes levemente separados, teus pés macios dos quais me lembro tão bem, tua alma doce e esfumaçada de bufão pueril enriquecendo esse mundo que te abraça eternamente. Presentes infindáveis.
Envio o meu beijo nos teus pelos das costas. Recebo o teu nas minhas perebinhas. Sei que vai rir disso. Amei-te, menino. Afinal, como te disse aquele dia com as palavras da Clarice, "é quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo". Muito amor por você. Gratidão pelo maravilhoso encontro depois de tantos anos. Sorrirei sempre ao lembrar de você. Darei uma "gargalhada gostosa", como dizia que eu tinha. Te amo.
Que você viva em todos nós.