11 de dezembro de 2007

Espiral Noturna

Lâmpadas de cores várias.
A realidade de cada apartamento é única.
Os filhos pequenos do casal do térreo me fazem recordar a paz da infância. Brincam cantando fragmentos da música "Dona Baratinha".

Hoje o filme me deixou com um certo medo de São Paulo. Vi-a cinza, fria e solitária. Só os casais são felizes naquela galáxia. Assustada, retorno à caverna. Tão deslocada de tudo - política, novela, antúrios - será que o mundo ainda me recebe? Será que me oferece chá de laranja com biscoitos, ou simplesmente me manda esperar?

- Não sou todas. Sou somente aquela lá-

Basta de espelhos cinematográficos. Sou minha própria escultora. E assim, sei que não há como ir contra os dias que antecedem a calmaria das rubras águas, quando minha boca de baixo fala.
Nestes, fico triste e mórbida, quase uma fada. Penso, então, ser possível viver sozinha na Via Láctea.

-Ai dos que me lêem na rua. Não vêem-

Como devagar e no escuro do abajur feito de palha. Como e penso na existência. Pão que me alimenta, parede que me sustenta, a cama me dá o aconchego e o vermelho da cortina é o que me chega aos olhos. Sou essa que vos fala. E confesso que fiz tudo ao contrário. E nessa, cinco anos se passaram.

Um comentário:

Anônimo disse...

Admiro e ao mesmo tempo simpatizo com esse seu estranhamento perante o mundo, mas preferiria que as coisas fossem mais fácéis pra você. Estar deslocado é doloroso, mas ao mesmo tempo nos dá uma perspectiva singular, e tento arduamente utilizar essa perspectiva para extrair algo de valor, mesmo que no fim isso seja inútil ... minha tola esperança sem a qual não sei viver.

Tentei também, de certa forma, ser meu próprio escultor, mas martelo e cinzel foram fundos demais. O artista, em sua grande pretensão, tentou explorar o veio da pedra para revelar sua verdadeira forma e o resultado não só o desagradou, como também percebeu que muito do que buscava estava nas lascas espalhadas no chão ... and this plainly sucks. Você diz não ser todas as projeções que ondulam sobre as superfícies, mas tão somente aquela que se contrapõe à luz. Você diz querer ser vista, mas para mim, bastaria poder ver um pouco melhor a mim mesmo ... gnothi seauton e outros clichês do tipo. Acho que desisti da noção de querer ser entendido, ou ao menos é isso que repito para mim mesmo, no entanto, acho que gostaria de ter um dia conhecido a fada que se esconde por detrás da menina de sorrisos largos, pairando nos recantos mais recônditos do universo.