12 de outubro de 2008

A FAMÍLIA

Ela se arruma para ir à igreja, cobre-se das melhores vestes. Triângulo, abaixo o quadrado, e objetivamente esse é o modo de se vestir do marido. A filha, de mediana data natalina, os acompanha babando os longos cabelos que cacheiam o estrondo do salto. Mas, alto lá, pois chove e sobre suas cabeças dois negros guarda-chuvas se movem, um sobre o casal e outro acompanhando a filha. É de seda ornada com pinduricalhos e rendas, a culpa cristã.O pai geométrico que o diga. Há tempos não se lembra do que é ser pipa, e farto está do cotidiano, que a cada coxia velada, insere os anos em seus dias de vida: essa mesma brevidade que ainda é gasta, todos os domingos, na ida ao confessionário.

Um comentário:

D disse...

Honestamente não sei se critica somente a religião organizada, mas de alguma forma também os casamentos de aparência.

Às vezes parece que você escreve estória longas com economia demasiada de palavras.

...

É explícita a empatia pela figura paterna, desejosa de se desvencilhar dos laços familiares.

A culpa e os confessionários acentuam o conflito do pai. A mãe é submissa e a filha parece sumir no pano de fundo do relacionamento. A família parece castrar a figura paterna, o que aparentemente faz o pai se envolver em algo que lhe traz remorso.

Coletivamente a família vai à missa expiar os pecados do pai, que consistem em última instância de uma fuga da própria família. Eis a ironia da situação e a dimensão trágica da figura paterna.