24 de novembro de 2012
ECO-LORIDO
Corpo ecoa cor quando, feito sol, se põe num outro corpo ecoa cor quando, feito sol, se põe num outro corpo ecoa cor quando, feito sol, se põe num outro corpo (ad infinitum).
9 de novembro de 2012
SOLIDÃO
12 de outubro de 2012
Eterna homenagem ao Gabriel Labanca.
Não tenho uma foto com ele pra postar, ficou tudo gravado no corpo, no coração. Há dois meses, no dia do nosso reencontro após tantos anos, curiosamente achamos graça tirar uma foto com o flyer da festa nas mãos e, numa provocação ao fotógrafo, negamos aquele instante de flash cegando-nos os olhos. Eternizávamos o momento apenas na memória. O reencontro ficava marcado na lembrança que é eterna.
A partir de então, ríamos muito juntos, gargalhávamos, que é a melhor coisa da vida. Este foi um dos maiores aprendizados com ele que é, sem dúvida, um dos maiores bufões de todos os tempos. Dizia isso a ele, que era um bufão repleto de amor. Dono de um senso crítico apuradíssimo, refinado, uma forma particular de ver o mundo, de ver a vida transbordando humor através daquele par de olhos crocantes, ele se alimentava de partilhar isso com o próximo. Ríamos dos mesmos devaneios e compartilhávamos palavras sobre a história do teatro, a chuva, a escrita do Lima Barreto, as melodias do Dorival Caymmi e até sobre o Flamengo, invencível timão do peito. Dizia que um dia ainda me explicaria como o fenômeno de um estádio lotado debaixo de chuva era algo interessantíssimo do ponto de vista antropológico. E eu ria com o meu coração. "My Funny Valentine" na voz do Chet Baker foi feita pra ele. Publiquei no meu perfil pra ele, ele sabia. Escreveu "sabiiiia!" quando viu. Sabia que me fazia sorrir com o meu coração. Aprendia com ele como quem segue um mestre zen daqueles que ensinam por koans, que são respostas enigmáticas altamente ilógicas e desconcertantes que não podem ser solucionadas intelectualmente. Porque Gabriel Labanca sempre falava além do que imaginávamos.
A partir de então, ríamos muito juntos, gargalhávamos, que é a melhor coisa da vida. Este foi um dos maiores aprendizados com ele que é, sem dúvida, um dos maiores bufões de todos os tempos. Dizia isso a ele, que era um bufão repleto de amor. Dono de um senso crítico apuradíssimo, refinado, uma forma particular de ver o mundo, de ver a vida transbordando humor através daquele par de olhos crocantes, ele se alimentava de partilhar isso com o próximo. Ríamos dos mesmos devaneios e compartilhávamos palavras sobre a história do teatro, a chuva, a escrita do Lima Barreto, as melodias do Dorival Caymmi e até sobre o Flamengo, invencível timão do peito. Dizia que um dia ainda me explicaria como o fenômeno de um estádio lotado debaixo de chuva era algo interessantíssimo do ponto de vista antropológico. E eu ria com o meu coração. "My Funny Valentine" na voz do Chet Baker foi feita pra ele. Publiquei no meu perfil pra ele, ele sabia. Escreveu "sabiiiia!" quando viu. Sabia que me fazia sorrir com o meu coração. Aprendia com ele como quem segue um mestre zen daqueles que ensinam por koans, que são respostas enigmáticas altamente ilógicas e desconcertantes que não podem ser solucionadas intelectualmente. Porque Gabriel Labanca sempre falava além do que imaginávamos.
Naquela noite nos encontraríamos. Muito melhor do que cinema (como a eterna inventiva mídia publica), compartilharíamos as imensidões de nossas almas, internas e externas. Nos olharíamos nos olhos, isso já bastava. Mas, como ele não poderia demorar muito, achamos melhor deixarmos o encontro para sexta-feira. Algo o esperava, parece até que sabia. Antes de suas últimas postagens no facebook, voltando da Estácio, me enviou um torpedo dizendo que naquele momento passava de carro pelo Engenhão torcendo pra que o jogo do Fla não começasse ainda e que ouvia uma música da Marisa no rádio. Perguntei o nome da música, mas ele não sabia e apenas me disse o refrão: "quero que você seja feliz...". Isso ficou gravado em mim. Era também o que eu mais desejava e desejo a ele. Ainda na terça-feira, conversávamos ao som da chuva virtual que havia publicado no seu perfil, e ele me disse: "Deitar no chão gelado de cimento queimado da varanda de casa de praia com um travesseiro de fronha velha e ficar lendo um gibi enquanto a chuva cai". E eu completei: "com aquele cheiro de terra molhada no ar, sem hora pra nada, e depois pegar no sono".
É assim que te imagino agora, Gabriel: bem bonito voltando a ser criança nesse chão de cimento queimado na casa de praia com "ondas, sol e vento", a fronha velha sustentando tua cuca de ouro e a pilha de gibis ao teu lado enquanto dorme pra renascer dourado por aí, brincando de fazer rir até os mais desavisados. Teus olhos crocantes daquela manhã da foto iluminada pela janela, teu cheiro de muco de Wolverine ainda impregnado em mim, teu coração abarrotado de amor e de graça, o sorriso dos dentes levemente separados, teus pés macios dos quais me lembro tão bem, tua alma doce e esfumaçada de bufão pueril enriquecendo esse mundo que te abraça eternamente. Presentes infindáveis.
Envio o meu beijo nos teus pelos das costas. Recebo o teu nas minhas perebinhas. Sei que vai rir disso. Amei-te, menino. Afinal, como te disse aquele dia com as palavras da Clarice, "é quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo". Muito amor por você. Gratidão pelo maravilhoso encontro depois de tantos anos. Sorrirei sempre ao lembrar de você. Darei uma "gargalhada gostosa", como dizia que eu tinha. Te amo.
Que você viva em todos nós.
É assim que te imagino agora, Gabriel: bem bonito voltando a ser criança nesse chão de cimento queimado na casa de praia com "ondas, sol e vento", a fronha velha sustentando tua cuca de ouro e a pilha de gibis ao teu lado enquanto dorme pra renascer dourado por aí, brincando de fazer rir até os mais desavisados. Teus olhos crocantes daquela manhã da foto iluminada pela janela, teu cheiro de muco de Wolverine ainda impregnado em mim, teu coração abarrotado de amor e de graça, o sorriso dos dentes levemente separados, teus pés macios dos quais me lembro tão bem, tua alma doce e esfumaçada de bufão pueril enriquecendo esse mundo que te abraça eternamente. Presentes infindáveis.
Envio o meu beijo nos teus pelos das costas. Recebo o teu nas minhas perebinhas. Sei que vai rir disso. Amei-te, menino. Afinal, como te disse aquele dia com as palavras da Clarice, "é quase impossível evitar o excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo". Muito amor por você. Gratidão pelo maravilhoso encontro depois de tantos anos. Sorrirei sempre ao lembrar de você. Darei uma "gargalhada gostosa", como dizia que eu tinha. Te amo.
Que você viva em todos nós.
23 de julho de 2012
CAIS
{ligiaprotti} |
6 de julho de 2012
MENINA PLANTA
{ligiaprotti} |
Sempre verde, se imaginava, de tempos em tempos, como planta.
Através de sinais do externo fotossintetizava sutis arrepios espasmáticos. Vez
ou outra, num silêncio de folhas secas, pousava-lhe um pássaro e iam num
tagarelar de diálogos tontos, incompreensíveis aos humanos não-verdes. O que era
de se esperar de uma menina planta? Sorriso cor-de-jambo, pés raízes de Fícus sp., olhos de amêndoas e um tremendo querer de sugar o sol a todo
o momento. Menina planta, circunscrita em toda a forma de agir, ela divaga entre o
que é pleno e lúcido e o que lhe reserva a vida. Destino seria isto? Na noite enluarada, longe de casa, perguntaram-lhe se acreditava em destino. Mentiu que não, embora no mesmo instante o visse acontecendo. O desejo de destino tecendo o céu negro sobre a pedra com a música festejando.
27 de junho de 2012
deseosdeseosdeseios acesos
deseosdeseios {ligiaprotti} |
no encontro do flerte
dei pra pensar que é da ordem do áereo
corpos num vibrátil intenso
espocando faíscas
há algo de escuro
escuridão reveladora
daquelas como no mar de jericoacoara
pedaços de estrelas percorrendo a pele
iluminando zonas quebrando ondas
semeando poros
ir e vir dos olhos
pêlos
hálitos
ancas
dentes
sebos
interno ressoando
intenso semeando
e decerto anda tão perto que a qualquer estalo sinto os ventos do céu dançarem entre minhas pernas.
19 de junho de 2012
EXERCÍCIOS DE INVISIBILIDADE
{ligiaprotti} |
18 de junho de 2012
ESTADO DE SER
patrimônio da penha {ligiaprotti} |
belo como se fosse uma festa de aniversário
talvez a sensação de quando um filho nasce
- só saberei quando for a hora-
é uma conquista
há tempos espero por isso
é uma passagem e deve ser comemorada como tal
Hoje percebi que o que envelhece é o corpo
e não o espírito
se engana quem pensa o contrário
é preciso estar atento
só assim é possível caminhar de bicicleta pelo deserto.
11/08/12
11 de junho de 2012
Série L's
Série L's
2 de abril de 2012
modo a mar
meu instante de espera
caneta pintando o céu
meus pulmões alargados
de tanto mar
tanto amar
a escrita no ar me preenche
o vazio
talvez sempre
de novo
o tango
piazzolla me invade
invade
avança
quebra
despedaça
destrói
arranca
pelas ancas
me lembra
do mar
do mar
do mar
me faz dançar ambição do mar
não de outro modo
daquele que só sabe a mar.
31 de março de 2012
28 de março de 2012
Homenagem tardia ao instante da beira mar {no trânsito da manhã de uma terça-feira}
martins de sá {ligia protti}
|
"Fonte de vida, a origem
da energia se formando:
linha d'água.
O desejo, hierarquia
de dual sensualidade:
linha d'água.
Do papel o outro nome
a imprimir nossas palavras:
linha d'água.
Leia-se mapa interior
do corpo, carta de magma,
onde se lê linha d'água."
Olga Savary
23 de março de 2012
Toda ouvidos
Ideias tardias às vezes me assaltam o pensamento. Chegam portando um outro tempo que o instante não é. Pensamentos de um outro tempo. Colocações de um presente corrido, palavras que não voltam mais. Há que se ter coragem de seguir adiante. Andante, aprendiz de rumos incertos em busca do presente, sempre. Trago um pingente no peito para me lembrar do silêncio. Atento silêncio constituinte da palavra primeva, primordial, vinda daquele que é inominável. Daqui em diante espero ouvi-lo nascendo em mim.
14 de março de 2012
Mensagem cifrada na palha do cigarro que a boca flagra
Subitamente um tanto quanto som
há quando tempo não te via
-palavras soltas como mera desculpa-
teria ficado muda
talvez nua
quem carrega água no corpo
tem desejo
da terra
dos olhos
cegos de tanto mar
éramos dois duplos
descendo ao encontro de tontos lampejos
-na hora diria desejos-
cantando rubricas silenciosas de um novo texto
entre meias verdades
os nomes de batismo
impregnados de fonemas incertos
lóbulos cheios de vertigem
regados pelos dentes
que ainda me assaltam as coxas
enquanto sigo pela estreiteza do corredor enfumaçado de mato.
há quando tempo não te via
-palavras soltas como mera desculpa-
teria ficado muda
talvez nua
quem carrega água no corpo
tem desejo
da terra
dos olhos
cegos de tanto mar
éramos dois duplos
descendo ao encontro de tontos lampejos
-na hora diria desejos-
cantando rubricas silenciosas de um novo texto
entre meias verdades
os nomes de batismo
impregnados de fonemas incertos
lóbulos cheios de vertigem
regados pelos dentes
que ainda me assaltam as coxas
enquanto sigo pela estreiteza do corredor enfumaçado de mato.
17 de fevereiro de 2012
14 de fevereiro de 2012
eletrocardiograma
Ela olhava para ele. Olhava para ele com os olhos bem abertos na medida do possível para não ficar feia. Fitava-o a fim de dissecá-lo, soprar a pele por trás dos pelos.Olhava pra ele e esperava a caça ou ao menos uma palavra. Nada. Duas horas de calor e nada. Antes fosse porque estivesse amarrado. Ela também estava e nem por isso temia. Mas na posição de fêmea encarnada seria dele a primeira mordida. Aquela que não houve,ninguém ouviu, não havia. O calor era apenas por conta da umidade excessiva. Ou seria de veia-pulso-tensão-coração? Tesão era o que ela espreitava. Precisava para não desfalecer de tamanho querer, na solidão da casa, ouvir Piazzola desritmado.
Duplo humano
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