23 de dezembro de 2007

Iceberg Natalino

Mais uma vez é Natal em minha cidade. Sei disso por causa das luzes, cansando-nos a retina, e por causa do aumento de crianças nas ruas pedindo esmolas. Sei que é Natal também devido à ilustre presença dos imensos bonecos de neve, colocados à beira mar. Quando cai a tarde vão sentar em seus colos crianças e mulheres que passeam de mãos dadas com namorados. Esses últimos lançam flashes sobre a neve do ser sorridente. E assim, não caibo em mim de tamanha "felicidade" ao ver a magnífica iniciativa em optarem por uma árvore com espumas brancas, no meio da principal praça da cidade-sol. Isso mesmo, meus caros. O quê?! Aquecimento global?! Que nada, isso não existe! É só pra assustar o povo do terceiro mundo, afinal tem neve até na praça. Tudo papo pra gringo ver. A gente quer mesmo é se fartar de peru com batata palha e champagne.

11 de dezembro de 2007

Espiral Noturna

Lâmpadas de cores várias.
A realidade de cada apartamento é única.
Os filhos pequenos do casal do térreo me fazem recordar a paz da infância. Brincam cantando fragmentos da música "Dona Baratinha".

Hoje o filme me deixou com um certo medo de São Paulo. Vi-a cinza, fria e solitária. Só os casais são felizes naquela galáxia. Assustada, retorno à caverna. Tão deslocada de tudo - política, novela, antúrios - será que o mundo ainda me recebe? Será que me oferece chá de laranja com biscoitos, ou simplesmente me manda esperar?

- Não sou todas. Sou somente aquela lá-

Basta de espelhos cinematográficos. Sou minha própria escultora. E assim, sei que não há como ir contra os dias que antecedem a calmaria das rubras águas, quando minha boca de baixo fala.
Nestes, fico triste e mórbida, quase uma fada. Penso, então, ser possível viver sozinha na Via Láctea.

-Ai dos que me lêem na rua. Não vêem-

Como devagar e no escuro do abajur feito de palha. Como e penso na existência. Pão que me alimenta, parede que me sustenta, a cama me dá o aconchego e o vermelho da cortina é o que me chega aos olhos. Sou essa que vos fala. E confesso que fiz tudo ao contrário. E nessa, cinco anos se passaram.

30 de setembro de 2007

Doce Gozo

Pôs-se, então, a se deliciar com o processo. Seu primeiro contato com tal alegria foi senti-la através dos lábios. A parte úmida destes que fica toda a vida intravertida, se comunicando apenas com os dentes, tinha agora a presença daquele objeto. Utilizando-se dos dedos para guiá-lo, deslizou-o por sobre a boca umedecida por inteiro, agora pela língua. Foi quando se sentiu invadida pelo entorpecimento que, naturalmente, tal objeto lhe causava através do contato com a mucosa e, ainda, por entre os dentes na gengiva. A sensação, provocando o ocular revirar das pálpebras, fez com que colocasse o tal objeto por inteiro dentro da boca, de uma só vez, chupando-o lentamente, agora livre dos dedos. Sugava e remexia-o com a língua procurando o contato com todas as cavidades daquela caverna vermelha e úmida. Em cada canto um gosto, um gozo. Seu corpo, agora, escorregava pelo sofá ,livre, pois havia encontrado o sumo daquilo que tanto chupava. Chupava, chupava. E a cada sugo seu, mais caldo soltava. Tratava, então, de engolir de uma só vez aquele caldo adocicado que se soltava e pensava na definição daquele momento. Foi, então, que desistiu de pensar. Catou no chão o papelzinho e leu: "bala de hortelã com recheio de caramelo".

13 de setembro de 2007

{ligiaprotti}

3 de setembro de 2007

Carente de orvalho
lótus estirada [seca] quase pálida

nutrida por raízes de tropismos incertos





12 de agosto de 2007

auto-retrato {ligia protti}

Dei pra escrever-te assim, nua, lápis em punho, feito seu pau rijo quando em contato com a minha coxa.

Dei pra escrever-te louca, exalando fogo pela boca, capaz de incendiar a Torre de Babel que sustenta nosso ato.

Dei pra escrever-te assim, desse jeito, boba, sedenta pra gargalhar quando seu íntimo me invade.

Dei pra escrever-te sua, simplesmente porque dei-te e nada mais agora tem volta.

17 de maio de 2007

69



Cachos soltos
tontos são
teus cachos sobre os meus




Caramujos abaixo do umbigo
               


                69




17/05/07

MADRUGADA MATINADA NO ERVA DOCE

{ligiaprotti}
Qualquer dos cantos, num canto de todos, juventude é sempre a mesma. Isenta de beira e eira, páira tontas imagens vertiginosas. Páiro. Páira. Pássaros juntamente à galáxias de éter amônico, siamêses olhares. Intercalam-se sombreiros. Sobreijos. Sobre beijos.Sobre o que mais? Queijo com tubérculos de cor laranja. Hoje ganhei botões de flores. Mais do que eu queria. E ainda daquele que se despede lançando no ar solfejos. Ganhei-as vermelhas. Fui feita de pólen. Nasci com clorofila áurea.
Anímica cor do espaço. Lança-me. Laça-me. Eu falo do que me abate. Banida do que eu penso ser. Sendo outrem. Vou-me.





10/05/07
(na madrugada matinada do Restaurante Natural Erva Doce - UFRRJ)

TATOS



porta do fluxo contínuo {ligiaprotti}


















Isso que me sai
como gozo entre as pernas
de fluido róseo
doce sumo da fruta
é quente e chega feito lavra

Estilhaçar de cactos
tontos espasmos
alvorada
isso que me sai
buscando-me completa

Espectadora de mim mesma
me avisto, leve, cálida, tímida
me avisto e me perco
sangria e grilhões através dos montes

Carrego o mundo entre as pernas




21/12/06

30 de abril de 2007

SINTA


{ligiaprotti}
Senti-la sem
tira 
agora sim
a serpente cintila 
sequiosa sobre mim
sinta 
sibila

23 de abril de 2007

Sol poente. Tiro do chão uma pedra. Devaneios do inconsciente. É vã minha preocupação materna. Descaso palavras abertas. Crianças crescendo amputadas, retorcidas. Ainda assim, tudo me força a gerar vida.

Me mima, me mima. Marquei um encontro de sílabas com a jia. Todas as mulheres são capazes do sexo. Todas dignas de uma transa. Até mesmo as sem membros, absurdamentes deslocadas. E, assim como o gozo de saber que alguém lhe observa, caminho à procura de mim mesma.



17/04/07

10 de abril de 2007

ABUELA

foi aquilo tudo
junto
naquilo que é tudo
junto foi
foi que tudo que é
aquilo, foi junto
e eu, era filha neta menina

abril/2006

Me perco e me divago
porque não sou o que querem que eu seja

Sou dos mamilos enrijecidos à palavra que me toca




19/03/06
{ligiaprotti}

27 de março de 2007

Nós amamos,simplesmente amamos. Com todas nossas imperfeições e inseguranças, nós amamos os nós.
Nós amamos, e queremos ser amados. Nós amamos às vezes, calados. Porque quem ama é a gente, e não o outro lado.
A gente sente na pele,a gente acha esquece,a gente quer nunca correr o risco, a gente às vezes transborda alegria e explode de riso.
Acho que eu falo demais, mas depois paro e me pergunto, não tem nada medindo nada,é só a minha cabeça restringindo tudo. Sem falar nada, mudo. Uma hora mudo.
O importante é ser intenso,quebrar a balança, não ser avarento. Sem caprichos, sem vícios.
O importante é ir alto, tocar o céu independente da queda, do tamanho. Ser humano e beber do mel.






por lucas protti

24 de março de 2007

HERA


{ligiaprotti}


Acabei me tornando
a bailarina de um,
malabarista de outro,
a atriz de mais alguém
e até mesmo a poetisa de um outro
Sempre e sempre musicada
E eu mesma? !
Seria Hera?
Sim, eu era.




05/2005

JÁ NÃO HÁ

Sem querer tornar-me livro. Sem querer, tornar-me sã.
Palavaras foram feitas para o papel. Pára, pára, sempre seremos nesse presente que se estende.
Precisando de identidade. Calçar-me. Amuleto-feito.
Só sabendo quem sou saberei impôr o que é de mim. Sabendo meu ser, sendo. Ingestão não-forçada. Lacuna. Livre. Preenchimento
Sãos seus meus momentos. Te imploro o cuidado. São seus meus teus braços, e não mais sua minha cama. Passado o passo, sido, sigo.

25 de fevereiro de 2007

COISAS QUE NÃO SÃO DITAS

Há coisas que não são ditas

Que ao entrar no espaço ao teu lado
te percebi desde o início

Que na vontade de saber teu cheiro mais íntimo
adormeci com a cabeça na tua bermuda
esquecida sobre o beliche
muito antes de pensar em ser tua

Que teu beijo demorado me provoca uma moleza úmida

Que apesar de ligeira,
adoro o modo calmo como me tens em tuas mãos
tua voz que fica rouca, tenra
teu domínio sobre minha nuca, arrepio pleno da alma

Te ver sobre meus olhos
fazendo-me inteira tua
trafegando com suspiros por entre meus poros
enquanto destilo a sensação que o contato de nossos corpos me provoca

Deixando-nos ser, simplesmente

31 de janeiro de 2007

À CRIA

{ligia protti}
Feliz por saber dançar
alegre porque de cada grão
trabalho o alimento
e essas são minhas riquezas [passarei-as à frente]

O que sei da comida e da dança
de tudo o que compõe o corpo
do nado, da água, natureza viva

Passarei à frente
mesmo que não para a cria de mim mesma,
mas transbordarei ao outro

Pois o que sei, não sei ao certo,
mas sei ser pouco




10/02/06
no Sol da Terra
A espera
Uma agonia de não perceber o tempo passando
Minutos, horas, dias em preto e branco
O que seria do querer sem o sofrer?
O que seríamos sem a cegueira da paixão?

29 de janeiro de 2007

INDEFINIDO

Vasto corpo de carne trêmula
meu perder-se acompanha o vai-e-vem da onda na areia
de início, erguida, ficando esguio o ventre,
arrebato-lhe o quadril contra o corpo,
sucinta explosão que me causa

Em movimento contínuo
jorram sumos de flores
licores
orvalhos da madrugada
mel de abelhas selvagens
fazendo brotar arrepios
do ventre à raiz dos cabelos

Vasto corpo de carne trêmula
território de dedilhar livre
em noites de lua crescente
corpo compositor de melodias incertas
ruidos sonoros, gemidos

É tua a minha mão na boca pensando em ti.

23 de janeiro de 2007

LUA CRESCENTE


Jurada como se retornasse à terra,
é na meia lua, novamente,
que o sentir se distorce no pulsar.


13/07/05

16 de janeiro de 2007

CONTANHO

Pernas abertas
Cobertas de gotas correndo
Banho morno
Fogo
Queimando pelo banheiro e dentro de mim mesma




07/06/05

15 de janeiro de 2007

SENTIDA

{ligiaprotti}
Todas as noites dos dias
Munida de esperança cor-de-rosa
Perfumada de ylang-ylang
Na bolsa trazida
Transbordante de vida
Ávida pela boca, dedos e língua.



28/05/05

11 de janeiro de 2007

DESMUNDA

{ligiaprotti}

Disseram-me
(alguém que não me conhece, tampouco eu)
que Balzac tinha os mesmo desvaneios

Julieta desse modo que escrevo
permaneço vendo sempre o que menos se vê
melancolia que me consome
sentindo a vida desgarrada
desse universo interno
perceptível agora

Desgarrada do todo que me assombra durante o caminhar
quando não devo e não temo,
mas carrego estes olhos cegos
que de real nada enxergam

Nada

(pois tudo é essa vida mundana
cada vez mais distante)

Julieta desse modo que sou
de certo não nasci pra viver
[se o travar das amídalas for vida]
vida essa que por mais que se valha de caminhar sozinha
fica sempre melhor chapada de alegria compartilhada.



09/06/05

7 de janeiro de 2007

PRESENTE VERMELHO

"Quero escrever o borrão vermelho de sangue com as gotas e coágulos pingando de dentro para dentro (...)"

Clarice Lispector

Do mesmo modo como me lembra o fervor das vestes espanholas, foi também uma escritora de lá, Rosa Montero, que me motivou a escrever sobre esse assunto dizendo quase não haver obras literárias sobre esse tema, tão constante e intermitentemente feminino.

Escrever sobre ela é como deixar vir, permitir que chegue, adaptando-se ao novo, que já é tão costumeiro. É como ficar de pé e perceber o quanto, daí sim, melhor ela flui...Reconhecer.


(em construção)

6 de janeiro de 2007

Menos temor de mim mesma
já não desvio os olhos
e construo pratos da nova mobília

O mesmo Caetano ainda soa,
mas os 21 já passaram faz um tempo

Persisto, e por vezes,
habito as crateras dos vulcões ativos.


05/01/07

5 de janeiro de 2007


{ligiaprotti}
Tão feliz que chego a transbordar
jorrando pelos bicos dos seios
que saltam feito esferas
mudando de órbita

22/08/06

NUA

{ligiaprotti}
Já rabisco
me despindo
nudez da cor do papel
daquelas onde o sol não toca

Desnudo meu mundo
e mundana torna-se a nudez
nudez de luz vaga
daquela que ecoa da lamparina

E quando sentida assim,
de tudo despida,
sinto-me em vida,
viva.

02/06/05

1 de janeiro de 2007

FEMININA

uma voz de lua disse coisas certas {ligiaprotti}

"Em dia fértil
Desperto férvida
Cheirando frascos
Fazendo versos
Desperto fútil
Tecendo fios
Desenhando fetos"


(Thaís Guimarães)

FESTA À FANTASIA



{ligiaprotti}

Pira na sua
excita
assusta
veste o que te pulsa dentro
transfigura-se no que já faz parte de ti
liberta o que mais há de vir


Insiste em ser vário
porque a vida é curta.

03/06/05

SINERGIA

O que somos nós
senão um punhado de emoções
sólidas em átomos
que constroem nosso corpo?

Punhado de emoções
que anda
dorme
come
faz amor

Um enxame de abelhas
onde a essência de cada um
vem do pólen que carregam

Sentem, como se às vezes
os pés não mais tocassem o chão
e se perguntam:
qual será o destino?

Assim as abelhas fazem...

Pequeninas,
mantenham-se unidas e produzam o mel,
se não, a vida finda
14/12/04

SEXTA-FEIRA

A minha sensação de liberdade é curta
embora intensa
e lembro-me
d'olho n'olho
cabelos se enroscando
num só nó

Ó só!

Éramos nós
éramos uno
e de repente
naquela mesa de bar
entro numa de autista
uma onda só minha

Ó só!
Mira!

E tudo muda
o mudo silêncio
na minha cabeça pirando
completamente sóbria

03/12/04